O Manuel Baiano, e seu Boteko
Desde que o conheci, sempre o achei um caro legal,
uma pessoa simples mas com uma inteligência rara, com pouca escola sabe tudo, e fico perplexo ao ouvi-lo falar em contas e rendimentos.
Deixou o sertão da Bahia pelos anos de 1967, depois de viajar 10 dias chegou a São Paulo, onde já tinha um irmão, que o ajudou a arrumar o primeiro trabalho, numa padaria de portugueses com quem diz ele, e com orgulho, aprendeu tudo o que sabia.
Depois veio casamento, o nascimento dos filhos e a separação, e ai começaram os problemas da vida, trabalhando dia e noite, mas a vida não perdoa, e os anos também não, o tempo corre contra ele, tudo passa de maneira diferente que ele imaginava. Achei o máximo, como ele tentou ajudar seu filho, e depois a dor que sentiu ao ver que tinha sido enganado, e a maneira como ele me disse que seu filho fazia concorrência desleal, com o seu próprio dinheiro, sem poder fazer nada. Trabalha noite e dia sem descanso, não sei como pode um ser humano aguentar tamanho sacrifício, mas a conta esta chegando, o achei diferente, o tempo esta levando a sua paga, ele não quer acreditar, mas um dia vai ter que abandonar esta vida de escravo que ele próprio se impos, e depois será muito difícil.
Já não fala das baladas, de que se orgulhava e dava lições aos seus amigos, hoje outros problemas mais relevantes o afligem e como ele diz é a sua sobrevivência que esta em jogo.
Como pai é de louvar o que fez, a vida é uma caixa de surpresas e ele ainda tem muitas que lhe vão bater a porta, perdeu todo o dinheiro que investiu e ainda perdeu a freguesia que ia onde era mais barata a cerveja, com o dinheiro dos outros é fácil fazer concorrência.
O Manuel è bom de mais, e os seus familiares se aproveitam disso, nem todos, bem entendido, o chapéu só cabe na cabeça certa.
A luta continua, trabalha 18 horas por dia e quanto tempo vai aguentar? Será difícil de adivinhar, cada dia ganha menos dinheiro, a concorrência é rude, e ele não pode fazer nada para recuperar a freguesia, sozinho sem ajuda será dentro de pouco uma sombra do que foi aquele homem trabalhador e honesto, que lutou contra ventos e marés mas que agora esta numa encruzilhada difícil, esta é a batalha mais difícil da sua vida, mas tenho fé que vai conseguir dar a volta por cima, ele bem que merece.
O boteco Café no Bule, esta bem localizado, há muito que não foi renovado, e precisa de uma pessoa que saiba do assunto, e queira trabalhar com afinco e tenha disponibilidade de tempo, e com novas ideias a fim recuperar a clientela de outros tempos, sozinho nunca vais conseguir, a ti cabe a decisão dela resultara a tua vida e a do boteco.
Sempre foste um homem sério, e sempre o serás, mas nem isso te valera, se não tomares as devidas medidas que te possam ajudar no teu negócio, do qual tu dependes muito mais que eu imaginava, mas tenho a certeza que na próxima vez que voltar estarás muito melhor, tu és um vencedor e eu te admiro. Manuel Baiano, Deus vai ajudar-te
A.C.Cordeiro