O cavalinho.
Desde tempos remotos que homem tentou controlar o tempo,
tendo para isso usado vários instrumentos, desde relógios solares, e muitas outras maneiras.
Ainda me lembro dos tempos da minha infância, quando os relógios eram raros e muito caros e o povo não tinha dinheiro para os comprar por isso usava outros métodos para saber que hora era.
O cavalinho era uma saliência branca que existe nas fragas de Santo Cristo e onde o povo que se dirigia para essas paragens, o utilizava como relógio baseando-se na experiência, embora fosse sempre hora solar, quando se visse todo era meio-dia e dai para a frente cada um, com a sua experiência la controlava a hora.
Depois os relógios começaram a ser mais populares e nessa altura havia uma onda de emigração para o Brasil, e não havia emigrante que partisse sem um relógio no pulso, e conta-se um episódio em que um tal fanfarrão João da Parreira ou João Terrível, que vendeu uma terra para comprar um relógio, mas não sabia ver as horas e um rapaz sabendo disso lhe perguntou, olha lá ó João já que tens relógio és capaz de me dizer que horas são? Ele meio envergonhado como não sabia que horas eram respondeu, muito simples, as mesmas de ontem por esta hora, foi uma risada de todos mas como ele era conhecido pelas tiradas ninguém ligou.
Naqueles tempos, eram tempos difíceis trabalhava-se de sol a sol, mesmo assim havia o desejo de controlar o tempo, e quem não tinha relógio tinha o cavalinho e era ele quem ditava a hora da merenda e da partida.
O tempo foi passando e um amigo me contou que em Angola os africanos controlavam o tempo com uma vara colocada na vertical, sabia muito bem quando era meio-dia e por vezes reclamavam para o capataz que o relógio dele não estava certo, tal era a experiência que eles tinham com o seu primitivo relógio.
Hoje em dia ainda há algum que se esqueceu do relógio e naquelas paragens olha para o velho cavalinho pedindo sua ajuda, e ele lá responde, eu estou sempre aqui e enquanto o mundo for mundo aqui estarei agora tu e os outro que me utilizaram vão partindo para sempre, quantos eu já vi por estas paragens chorando de tanto trabalho, e outros sem saber o que fazer, me olham com desdém, porque tem no pulso algo moderno, que lhe dá a hora que eles desejam, mas eu sou eterno e o mundo continua.
O cavalinho das fragas de Santo Cristo Castro Vicente.